quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

o sentimento de não estar de todo...

...mas agora acontece que o homem-menino não é um cavalheiro, mas um cronópio que não entende bem o sistema de linhas de fuga graças às quais se cria uma perspectiva satisfatória dessa circunstância, ou então, como acontece nas colagens mal resolvidas, sente-se numa escala diferente com relação à da circunstância, uma formiga que não cabe num palácio ou um número quatro em que não cabem mais do que três ou cinco unidades. a mim, isto me acontece palpavelmente, às vezes sou maior do que o cavalo em que monto, e outros dias caio em um dos meus sapatos e me dou um golpe terrível, sem contar o trabalho para sair, as escadas fabricadas laço a laço com os cordões e a terrível descoberta, já na margem, de que alguém guardou o sapato num guarda-roupa e que estou pior do que edmundo dantés no castelo de if, porque nem sequer há um abade à disposição nos guarda-roupas de minha casa.

júlio cortázar, o sentimento de não estar de todo